quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Primeiro mapa.


Em verde estão as cidades que pretendemos visitar, em rosa as imperdíveis. Tudo pode ser alterado ainda, e o mapa está sendo aperfeiçoado. Vale como versão 1.0.

A extensão territorial é imensa e os maiores desafios estão no Raso da Catarina, região das mais inóspitas do Brasil.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

São José do Belmonte e a Pedra do Reino. Até Ariano Suassuna levou às telas da Globo.


Durante três anos, de 1835 a 1838, em Pernambuco, uma comunidade com cerca de mil pessoas morou próximo às pedras de 30 e 33 metros de altura. As crenças eram baseadas no sebastianismo, pregada pelo jovem João Antônio e por seu sucessor, o cunhado João Ferreira. Inspirado em cordel sobre D. Sebastião, João Antônio dizia que o mitológico rei português (morto no século 16 em batalha contra os mouros) desencantaria ali. A espera terminou com o massacre da Pedra do Reino, em que 53 pessoas e 14 cães morreram em sacrifício, entre os dias 14 e 16 de maio de 1838. Eram 20 crianças e algumas histórias são terríveis. Pernambuco, 1836. Um sertanejo inspirado em verso de cordel liderou um grupo de fanáticos religiosos que acreditavam no aparecimento, em pleno sertão, do Reino Encantado de Dom Sebastião, revivendo, assim, a lenda lusitana do rei que retornaria para restaurar a soberania do Império português e livrar o povo das mazelas. Dom Sebastião foi o Rei português morto em 1578 quando, aos 24 anos, se lança numa nova Cruzada, rumo ao Marrocos. Na tentativa de converter mouros em cristãos, desaparece na batalha de Alcácer Quibir. Seu corpo nunca fora encontrado. Portugal anos depois passa para as mãos espanholas. Cresce em terras lusas o sonho de que D.Sebastião um dia retorne para restaurar o Império Português. O mito se estabelece. No Brasil, o mito sebastianista da Pedra do Reino prometia que o Rei finalmente voltaria do deserto instalando aos pés da Pedra Bonita – nome primitivo da Pedra do Reino – um Reino Encantado. Distribuiria riqueza, terras e libertaria os negros da escravidão. O sangue dos fiéis derramado nas Pedras - pregava o líder dos sebastianistas - abriria caminho para o “desencantamento” do Rei. A HISTÓRIA DO REINO ENCANTADO O Movimento fanático surgiu no município de Floresta (em área que depois integraria o município de São José do Belmonte), interior de Pernambuco, em 1836, um ano depois de o estado sofrer uma grande seca. Teve início com as pregações do beato João Antônio, segundo as quais o rei Sebastião iria "desencantar" e voltar para distribuir riqueza com o povo. O beato foi logo seguido por uma legião de adeptos, mas, pressionado por padres católicos, desistiu da iniciativa. Dois anos depois, João Ferreira (um cunhado do beato João Antônio) reinicia o movimento, com as mesmas promessas de criação do "Reino Encantado". O fanático João Ferreira reunia seus seguidores em torno de um grande rochedo (a "Pedra do Reino") e dizia que, para que o rei Sebastião revivesse e pudesse realizar o milagre da riqueza, era preciso que a grande pedra ficasse totalmente tingida com sangue humano. Quem doasse o sangue para a volta do rei seria recompensado: velhos ressuscitariam jovens; pretos voltariam brancos e todos, além de ricos, seriam imortais na nova vida. Tiradas de suas lavouras pelo flagelo da seca, famílias de agricultores acamparam em volta da rocha e passaram a aguardar o milagre. Os registros oficiais sobre a Pedra do Reino citam uma beberagem à base de manacá com jurema servida por João Ferreira aos seus seguidores, durante as cerimônias sebastianistas. Um é raiz; a outra, erva. Ambos, fortes alucinógenos. João Ferreira proclamou-se "rei" e estabeleceu os costumes da comunidade ali formada. Por exemplo, cada homem poderia ter várias mulheres, mas cabia ao "rei" o direito da primeira noite: ele dormia a noite de núpcias com a recém-casada, devolvendo-a no dia seguinte ao marido. Todas as outras normas de conduta também eram ditadas por ele. A tentativa de tingir a pedra com sangue humano (para que, finalmente, o milagre acontecesse) foi levada à prática durante três dias de maio de 1838. O primeiro a ser degolado foi o pai do "rei" João Ferreira. Outras 50 pessoas foram sacrificadas, a maioria crianças. Mas, mesmo assim, o rei Sebastião não apareceu. Os fanáticos, então, decidiram sair em procissão, tendo à frente João Ferreira. Encontraram uma patrulha e foram massacrados.




Penso serem estes fatos acima descritos, responsáveis por parte da personalidade de Lampião, tendo em vista que o local onde se passaram (São José do Belmonte-PE) é muito próximo do local de nascimento de Virgolino, que se deu menos de meio século depois dos mesmos. Imagino que Virgolino escutou muitas histórias contadas sobre o evento, que devia fazer parte do imaginário popular da época. Este local será visitado.

Imagens de Serra Talhada, berço de Lampião. Era Villa Bela naqueles tempos.




Serra Talhada, onde Virgulino Ferreira da Silva nasceu, é um dos destaques desse roteiro. Na cidade, fica o Centro de Estudos e Pesquisas do Cangaço, que também funciona como museu. O lugar é parada obrigatória para quem quer desvendar os mistérios da vida dos cangaceiros.




O cangaço surgiu e desenvolveu-se na região semi-árida do nordeste brasileiro, no império da caatinga, nome que significa "mata branca". Não é uma área pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.Na caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho Chico, tão conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem durante a época da estiagem, quando os únicos a não sofrer são os coronéis, muitos deles transformados, atualmente, em políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os hábitos, e continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito possível da situação.Nos leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a 1940, os sertanejos cavavam cacimbas, procurando o pouco de água que ainda restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas de se conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até obter um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os cangaceiros utilizavam-se muito desta última forma de conseguir "água". Os sertões de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe serviram de palco para o drama que envolveu milhares de nordestinos, apesar de existirem, em meio à aridez da região, verdadeiros oásis. Em Pernambuco, por exemplo, está Triunfo, a 1180 metros acima do nível do mar, onde existe uma cachoeira de 60 metros de altura. A temperatura chega a cair, durante a noite, a 5 graus, e existem árvores frutíferas em abundância. No sertão do Cariri, no Ceará, há uma região coberta de mata, formando uma floresta tropical com árvores de até 40 metros de altura. Outros exemplos de locais de clima ameno são Garanhuns e a região de Serra Negra, no município de Floresta, ambos em Pernambuco.Já de aspecto completamente oposto, o Raso da Catarina e a região de Canudos são pontos em que a natureza aprimorou-se em deixar a terra nua e sáfara, totalmente árida.A fauna nordestina varia dependendo do tipo de clima.Quando Lampião andava por aqueles sertões, ali existiam onças pintadas, suçuaranas, onças pretas, veados e tipos variados de serpentes, como jararacas, jibóias, cascavéis, etc. O gavião carcará é um dos mais conhecidos habitantes dos sertões, assim como diversas espécies de lagartos. Papagaios, periquitos, canários, juritis, azulões, anus pretos e emas eram também numerosos naquela época. À beira do Rio São Francisco encontrávamos jacarés guaçú, pipira, tinga, o de papo amarelo, etc.Hoje é uma outra história, pois o homem teima em destruir a natureza




Serve sobretudo pra nos situar geográficamente e dar a idéia do cenário em questão.



Prefiro pensar assim.


Uma visão particular de Lampião pode ser lida em:


Não deixa de ser uma forma de começar o estudo sobre nosso herói. Recomendo a leitura. No mapa, o local da morte de Lampião.

O Roteiro. A inspiração.


A inspiração do roteiro vem de um mapa, escaneado de um dos livros sobre nosso "herói". Como podemos observar, a área de abrangência é muito grande, algo em torno dos 270 mil km². Vou me restringir a quatro cidades "limites", quais sejam: Barra da Estiva, no sul da Bahia, a apenas 100 km de Minas Gerais, ao sul; Mossoró RN ao norte; Remanso BA, a oeste e Piranhas a leste. Dentro deste polígono irregular, muitas cidades serão visitadas. Em algumas, uma breve passagem de Lampião, em outras, reincidentes visitas as fazem especiais. Vamos aproveitar e visitar também alguns lugares emblemáticos como a Pedra do Reino e Canudos, locais onde acontecimentos surreais se deram. Estamos já com uma lista de dezenas de cidades e preparando a divisão delas por micro regiões, elegendo uma base em cada uma delas, de onde possamos abranger o máximo de território, tentando não perder nada.

Graças a ajuda de estudiosos como Kydelmir Dantas, ZéMaria Carneiro, Moacir Assunção e entidades como Cabras de Lampião, Sociedade Brasileira para o Estudo do Cangaço, pra citar apenas alumas fontes, estamos evoluindo.

A viagem vai ter início no comecinho do ano e espero ter a rota traçada até o fim deste mês de outubro de 2008.

Quem puder ou quiser ajudar, que sejam muito benvindos.

Pequena biografia.


Virgulino Ferreira da Silva nasceu em 7 de julho de 1897, em Vila Bela, estado de Pernambuco, filho do fazendeiro José Ferreira da Silva e Maria Lopes. Virgulino aprendeu a ler e a escrever, e logo na infância ajudava o pai no lida com os gados.Gostava de ouvir os poetas de cordel e suas histórias que envolviam os cangaceiros. Após o seu pai ter perdido a sua propriedade para o vizinho, Virgulino e seus irmãos se juntaram ao cangaceiro Sinhô Pereira para honrar a família por vingança. O nome “Lampião” surgiu do fato de Virgulino disparar a arma consecutivamente iluminando a escuridão da noite. Em 1922, a polícia cercou o sítio de sua família e matou seu pai a tiros.A morte do pai aprofundou Virgulino no cangaço, que logo, em 1922, assumiu o comando do bando após a saída de Sinhô Pereira. O bando de Lampião atuou muito em Pernambuco, Paraíba e Alagoas; em 1926, refugiando-se no Ceará.A convite de padre Cícero, Lampião e seu bando aceitaram lutar contra a Coluna Prestes em troca de anistia e patente do batalhão Patriótico, porém o acordo fora quebrado após serem perseguidos pela polícia; fato que fez o grupo de lampião retornar ao banditismo. Maria Bonita, esposa de Lampião, entrou para o bando em 1931, após largar o marido sapateiro. O bando foi cercado na fazenda de Angicos, município de Poço Redondo, Sergipe, todos foram mortos e decapitados, a morte de Lampião consta na data de 28 de julho de 1938.


Embora muito suscinta, esta é uma breve biografia de Virgulino Ferreira da Silva, para ler sobre este personagem ou se aprofundar na história do cangaço, basta pesquisar que a literatura é farta. Estou esperando uma visão mais atual do amigo Kydelmir Dantas, estudioso e pesquisador do tema, que tem me ajudado a elaborar o roteiro desta aventura.